quarta-feira, 14 de março de 2012

Liderança feminina: espero que em alguns anos ninguém escreva mais sobre isso

Não simpatizo com movimentos sexistas, não acredito em igualdade e não gosto de leis ou atos que favoreçam gêneros no mercado de trabalho. Não me sinto confortável em comemorar o Dia das Mulheres, porque penso que sou injusta com os homens por não retribuir a gentileza. Mas espere: caso eu tenha despertado algum desconforto em você, não desista de ler este artigo e me deixe fazer entender.

Pensemos em três variáveis sobre essa questão.

Primeiro - Historicamente as mulheres estão faz pouco tempo no mercado de trabalho. Na medida em que o tempo passa, creio que a importância de distinção de gêneros tende a diminuir. Façamos a conta. Há quanto tempo os homens saíram de seus lares e foram ao "mercado" buscar a "provisão"? Desde quando foram treinados para isso? Desde os primórdios, quando saíam à caça para trazer o alimento enquanto as mulheres cuidavam da colheita, do espaço familiar e doméstico. Resultado: há milhares de anos os homens são culturalmente programados para o mercado de trabalho.

E as mulheres? Embora pontualmente as mulheres sempre tenham contribuído para o sustento familiar (vide Revolução Industrial - quando saíam com as crianças para o trabalho e em culturas onde a tradição designa funções específicas para ela), efetivamente e de maneira global esse é um advento muito recente com menos de 100 anos. Falando de Brasil, não temos nem 50 anos de preparação feminina para o mercado de trabalho. Portanto, com o passar dos anos essa presença, inclusive em cargos de liderança, tende a atingir estatísticas mais igualitárias.

Segundo - A mudança cultural está acontecendo tanto no papel feminino quanto no masculino. O homem não é mais apenas o provedor material assim como a mulher não é apenas provedora de afeto e presença na vida dos filhos e da família. Assim como as mulheres, os homens privilegiam novos valores. É cada dia mais comum homens levarem seus filhos ao médico, enquanto suas mulheres estão em reuniões de trabalho. Nesta nova dinâmica, os papeis domésticos e de provisão material são divididos e reinventados o tempo inteiro.

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Essa geração entende que tanto o pai quanto a mãe devem comparecer às reuniões escolares, ao pediatra ou ao que for necessário. De certa forma essa mudança cultural alivia a dupla jornada da mulher e proporciona uma maior dedicação ao trabalho e, consequentemente, aumentam suas chances de ascensão profissional.

A concepção masculina de paternidade também mudou. Os homens cada vez mais querem estar com seus filhos e isto auxilia as mulheres com suas carreiras. Finalmente a sociedade está introjetando outros fatos óbvios: homem também tem uma vida familiar, os filhos precisam da presença masculina em suas vidas e "Reunião de Pais" termina com "s" no plural (e vejam bem, esse evento não se chama Reunião de Mães). Isso elimina a falsa sensação de que apenas a mulher pode ter como ponto limitador da carreira o fato de ter família e filhos, simplesmente porque os homens também os têm.

Terceiro ponto - Ainda que as mulheres gastem mais tempo com sua "carreira doméstica e familiar" (inclusive pelo papel biológico da concepção), e que 80% das empresas avaliam a disponibilidade dos entrevistados na hora de contratar, a tecnologia tende a suprir as necessidades das mulheres de conciliar sua carreira profissional com suas aspirações familiares. É inegável que a maioria das mulheres engravida, tem filhos e constitui família. Mas com a tecnologia disponível hoje, cada vez mais se torna possível que a mulher exerça cargos de liderança mesmo estando fisicamente distante da empresa. Aliás, o bom líder é aquele que cria uma equipe que consegue produzir sem a sua presença.

Além disso, notebooks, smartphones e outras tecnologias criam uma nova dinâmica em que as pessoas levam o trabalho para seus lares e, quando necessário, inserem sua vida pessoal no horário comercial sem causar prejuízos para a empresa e para a carreira.

Por fim gostaria de me apresentar. Sou executiva, mãe, esposa, irmã, filha, esportista, vizinha, amiga e assim como você (seja homem ou mulher) assumo vários papeis. Sei que não é uma jornada fácil, mas essa foi a escolha que fiz. Toda liderança requer renúncia, assim como toda escolha. Eu sabia que teria obstáculos, mas me preparo a cada dia para eliminá-los (prefiro eliminar a transpor, caso eu tenha que percorrer o caminho de volta). E acredito num futuro onde o mérito e os perfis de liderança sejam discutidos com maior relevância, sem ignorar que homens e mulheres são realidades do mundo corporativo seja em qual posição for e com seus neurônios, emoções, testosteronas e estrogênios têm muito a contribuir para o futuro da gestão no mundo.

Fonte: Retirado do site http://www.rh.com.br/  em 06 de março de 2012 às 17h53min.

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