terça-feira, 29 de maio de 2012

Levantamento de casos de discriminação étnico/ racial - Aracruz - ES


Trabalhador denuncia Aracruz Celulose por discriminação racial


A Aracruz Celulose foi denunciada na Justiça do Trabalho pelo crime de discriminação racial, entre outros. A denúncia é do funcionário Clausner Silva dos Santos, dirigente sindical, negro, que trabalha na empresa desde 1996. Nesta quarta-feira (20) houve audiência de instrução do processo, em Aracruz, norte do Estado. O movimento negro não pôde acompanhar a audiência.


Os representantes de diversas entidades negras ficaram revoltados em não poder acompanhar a audiência. Segundo Isaías Santana da Rocha, presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos (CEDH) e coordenador do Fórum Estadual de Entidades Negras, processos sobre discriminação racial são, em princípio, públicos.


Destacou que discorda da decisão do juiz em decretar segredo de Justiça no processo, a pedido da Aracruz Celulose. E informou que os movimentos negros se mobilizarão para participar da audiência de julgamento, marcada para o dia 2 de abril próximo, às 10h.

Segundo Clausner Silva dos Santos, desde que entrou nos quadros funcionais da Aracruz Celulose, em 1996, ele só não foi vítima de discriminação quando trabalhou em São Mateus e na Bahia, por cerca de sete meses. Sua função é de controlador de transporte.

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No processo, o trabalhador da Aracruz Celulose afirma que foi vítima de perseguição, assédio moral, discriminação e racismo. Informa que recebia tratamento diferenciado em relação a seus colegas da mesma função. Se saia até o pátio, era observado. Diz que tinha de relatar o que ia fazer, por onde havia andado. É que, como dirigente sindical, observava as condições de segurança do pátio, entre outras coisas, e cobrava providências.


Em relação ao assédio moral, Clausner Silva dos Santos relata que ocorreu, por exemplo, quando o gerente da área impediu seu acesso às informações da empresa, medida tomada durante suas férias. Quando voltou ao trabalho, não tinha como exercer corretamente suas atividades por falta de acesso a estas informações, essenciais ao trabalho.



A discriminação racial era praticada com a conivência da empresa. Relata o funcionário que um colega se referia a ele como “negro sujo” ao falar dele e do seu trabalho.



Quando teve de se afastar, para fazer quatro cirurgias no joelho, o colega o substituía e se queixava desta substituição a seus superiores, na presença de outros funcionários, e dizia que o afastamento do trabalho “era coisa de negro sujo”.



As agressões, diz Clausner Silva dos Santos, foram relatadas oralmente à empresa, em 2003. No ano seguinte, por escrito e com testemunhas, à Aracruz Celulose o funcionário relatou a discriminação racial. A Aracruz Celulose se calou.



Agora responde ao processo na Justiça do Trabalho. Clausner Silva dos Santos diz que só continua funcionário da Aracruz Celulose por ter estabilidade no trabalho, pois atuou como cipeiro e agora é diretor suplente do Sindicato dos Empregados na Indústria de Celulose, o Sinticel.


Clausner Silva dos Santos requereu à Justiça do Trabalho que a Aracruz Celulose lhe pague indenização pelas agressões que sofreu. A indenização deve ser de aproximadamente R$ 300 mil.

Como percebido no texto, apesar de ser do no de 2008, a questão da discriminação persiste nos dias de hoje, está presente no nosso cotidiano, em todos os espaços, instituições; com homens e mulheres de várias idades. Por experiência própria presencio constantemente situações de preconceito contra o sujeito negro praticado por familiares, no local de trabalho, no comércio. Ocorre de forma velada e sutil, conforme textos já estudados em módulos anteriores. Questionados sempre tentam justificar suas condutas não racistas e preconceituosas e se sentem ofendidas quando são levadas a refletirem o comportamento tão arcaico, sujo, pobre e ignorante.



Coleciono várias situações de preconceito, tais como:



A mãe negra diz em meu local de trabalho “ele vai ficar preto igual a mim (o pai é branco)!” e alguém responde: “Tadinho!”- me indignei verbalmente na mesma hora e a pessoa sem graça tentou justificar-se.



Todos assistindo um determinado programa de televisão cujo tema do dia era os diversos penteados para pessoas com cabelos crespos. Fui chamada para ver um determinado penteado e ouvir o desabafo de uma colega que tenta me convencer que alguns penteados são feios ou exagerados. Diante discussão apareceram pelo menos mais umas 3 colegas (todas brancas). Ao final foi unânime: nenhuma delas admitiu respeito às diferenças, diversidade cultural, de que cada um tem o direito de ser e estar na sociedade conforme suas origens e vontades. 



Em meu chá de bebê muitos ficaram abismados, senão chocados, com a figura de uma bebê negra no convite e em toda a decoração, pelo simples fato de meu marido ter a pele clara e a minha negra. Ouvi muitas frases do tipo “sua filha não vai ser “morena” ela vai ser clarinha ou “morena clara”. Ela pode nascer com os olhos verdes, azuis por causa da avó!”. Até minha mãe foi alvo de espanto “Nossa Jussara fez o desenho de uma neném escura!!!”, vindo minha mãe a sentir-se ofendida e muito chateada respondeu “ Jussara valoriza a raça dela e sabe do que está fazendo!”



Mas a pior situação foi a de ouvir várias insinuações de um parente e perceber em sua face a preocupação durante os 9 meses de que a minha filha nascesse não apenas negra, mas com o cabelo crespo “destoando” da sua origem que é “europeia”. Ouvi-la criticar a aparência da pessoa negra e saber que minha filha teria inúmeras possibilidades referente à condição física sempre me deixou chateada, frustrada, com raiva, chocada – com todos aqueles que em pleno século XXI ainda tem suas mentes enraizadas num passado escravista, colonial, atrasado e é lamentável ainda assim ter que conviver com essas pessoas que ainda assim gosto e que são meus colegas/amigos/familiares.



Por fim voltando ao texto de Ubervalter Coimbra o negro continua enfrentado o grande abismo da desigualdade, mesmo tendo conquistado muitos direitos, tendo um nível maior de escolaridade, alcançado oportunidades melhores de emprego etc.



Mas como o ditado: “sou brasileira e não desisto nunca” – de acreditar que o mundo será mais igual para todos e todos serão mais iguais.


Fonte: Texto produzido pela aluna GPP-GeR/UFES – Jussara Passos – Polo Aracruz – ES, com base em experiências pessoais e reportagem retirada do seculodiario.com.br em 28 de maio de 2012 às 12h20min. 

2 comentários:

  1. Bom informar que este processo transitou em julgado (não cabe mais recuro) em dezembro/2012 em Brasília e a empresa foi condenada. Abraços a todos. Claisner Silva dos Santos.

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