Estes dias em mais um de meus atendimentos,
ouvi relatos de duas mulheres aflitas, uma branca e outra preta, que me fez
sentir vontade de partilhar com vocês...já que tenho que relatar resumidamente
casos que se assemelhem ao tema proposto pelo módulo 4 e pelas matérias que já
estudamos.
Vou chamá-las de Ana e Maria para assim garantir
o sigilo de suas identidades. Ana mora a mais de 01 ano e meio com seu
companheiro “João”, e a aproximadamente 6 meses chamou Maria para residir com
eles, devido ao grau de parentesco que possui com a filha desta que é sobrinha
dele.
Ana relatou que a
muito vem sendo agredida pelo companheiro, verbal e fisicamente, que quando
este está sob efeito do álcool destrói os bens materiais que são poucos, a casa
e etc. Relatou ainda que quando ela foi morar com ele a casa estava inacabada,
e que ela concluiu as obras. Quando questionada sobre o fato de se submeter a
este tratamento há tanto tempo, ela alegou que tem medo de ser “posta na rua”,
pois não tem para onde ir, porque a casa é da família dele, entre irmãos, e que
se ela denunciar ele vai matá-la, porque ela não acredita na justiça
brasileira, que sua mãe foi assassinada quando ela tinha 01 ano e meio e que
ela não quer o mesmo para o filho que mora com eles, “eu sei o que é ser criada
sem mãe, eu sinto falta de minha mãe e não quero isso para meu filho, ele só em
05 anos”, relatou em meio a lágrimas.
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Maria por sua vez, é a que foi morar com o
casal, amiga de Ana e quem já impediu várias vezes ações mais agressivas por
parte de João, que poderiam ter ocasionado a morte desta. É a mãe da sobrinha
de João, no qual ele demonstrava alguma consideração devido a isto, porém ao
expulsar Ana de casa foi a “procura” de Maria. Esta se sentiu coagida e
envergonhada e em meio ao “ódio e nojo” que sentiu contou a amiga Ana o que seu
companheiro propôs.
João ao saber que havia sito delatado
expulsou Maria também de casa, ou seja, serão 02 mulheres, 03 crianças e 01
adolescente na rua, porque elas têm medo de denunciar porque não sabem o que
vai acontecer.
Ao terminar a atendimento, dar as orientações
e liberá-las fiquei sentada na sala pensando, pensei nas coisas que ouvi e nas
coisas que disse, pensei que nem mesmo eu acredito muitas vezes nas coisas que
disse, me senti fazendo meu papel enquanto profissional, daí quando olhei para
minha realidade vi que elas tem razão, infelizmente elas tinham razão, nossa
legislação é linda no papel, mas nossa realidade é dura, realmente nem sempre
depois de denuncia feita e apurada, o
agressor permanece detido e os riscos dele matá-las é gigantesco.
Pensei também que nosso país é enorme, é
rico, muito rico, cheio de história de lutas, cheio de conquistas também,
presidido por uma mulher, e mesmo assim é um país onde há diferença nos
salários por questões de gênero, em pleno século 21 aqui pertinho da gente tem
mulheres pretas, brancas, mulatas, indígenas, tem seres humanos que se submetem
a agressões, a manipulações, se submetem a viver sob opressão, porque não tem
como se sustentar, ainda dependem de “seus homens” para ter o que comer e onde
dormir, que é o mínimo para subsistência, isso porque é direito constitucional
o direito a vida! “O direito à vida é o mais fundamental de todos os direitos,
já que se constitui em pré-requisito à existência e exercício de todos os
demais direitos” traz ainda “o direito à vida, cabendo ao Estado assegurá-lo em
sua dupla acepção, sendo a primeira relacionada ao direito de continuar vivo e
a segunda de se ter vida digna quanto à subsistência”.
Daí pensei também no que ela me pediu. “Me
ajuda por favor!”, ela clamou por ajuda a mim, uma Assistente Social,
especialista em políticas sociais que não pôde fazer nada além de orientar,
tudo isso por que não existem políticas públicas que funcionem corretamente no
Brasil, em nosso estado e muito menos em nosso município. Diante de tudo que
aprendi e aprendo todos os dias só pude orientá-las e deixar ir, foram
novamente para a realidade delas e não pude fazer nada a não ser fazer o mínimo.
Não estou desmerecendo meu trabalho, de forma
alguma, eu amo minha escolha profissional, e faço meu trabalho com excelência,
mas me senti frustrada, porque não temos casas abrigo para mulheres e
dependentes que sofreram agressão, as estatísticas mostram que os agressores
matam mesmo, depois que são liberados. Não temos ferramentas para atender este
público, não temos políticas que funcionem, os poderes não trabalham em rede.
Daí ficaram os questionamentos: O que faremos
enquanto gestores? Estamos lendo, estudando, discutindo, mas e na prática, como
trabalharemos?
Há muito que aprender, muito que ensinar e
muito a praticar....só sei que da forma que está não pode permanecer, não pode
mesmo.....Brasil assim não dá!
Fonte: Texto
produzido pela aluna GPP-GeR/UFES - Jaiane Loureiro da Silva – Polo Aracruz –
ES.
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