Grupo formado por voluntários atende pessoas de diferentes profissões e
graus de escolaridade que têm em comum um histórico de agressões físicas e
psicológicas contra mulheres.
Durante as segundas-feiras, um grupo de
aproximadamente dez homens se reúne em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo
para participar de um processo de mudança de comportamento. Sergio Barbosa é
coordenador deste grupo pioneiro em São Paulo, que atende pessoas de diferentes
profissões e graus de escolaridade que têm em comum um histórico de agressões
físicas e psicológicas contra mulheres.
Barbosa tem 45 anos e
é professor de Sociologia e Filosofia. Nascido em Brasília, se estabeleceu em
São Paulo depois de muitas andanças. É filho de um militar baiano e de uma dona
de casa capixaba e trabalha há duas décadas pela igualdade de gênero. Desde 2006,
é voluntário do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, organização não
governamental que optou por uma abordagem inovadora na tentativa de quebrar o
ciclo da violência contra a mulher: reeducar os homens.
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observatoriodegenero.gov.br |
O caminho adotado pelo Coletivo tem sido utilizado
também pela Justiça. Desde 2010, a Vara Central da Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher de São Paulo, na Barra Funda, zona oeste, direciona os
agressores para a ONG. “Eles chegam bravos, odiando a idéia de estar em um
grupo de homens organizado em um coletivo feminista”, diz Barbosa.
“No início, eles se sentem injustiçados.
Acham que não fizeram nada de mais”, explica Barbosa, que realiza – com o resto
da equipe – uma série de atividades com o objetivo de desconstruir a figura do
‘machão controlador’.
Leandro Feitosa Andrade, que tem 52 anos e é
professor de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC/SP) também é voluntário do Coletivo e trabalha com Barbosa na reeducação
dos homens. “Tentamos mostrar que para ser homem não é necessário bancar o
durão violento. Ajudar na educação dos filhos e mesmo nas tarefas do lar não
afeta a masculinidade”, diz.
Ao todo, são realizados 16 encontros
semanais. No começo, os homens se apresentam e contam suas histórias. Os
motivos relatados para a violência são quase sempre os mesmos: sentimento de
posse, ciúmes, educação dos filhos e machismo. “Acham que só eles podem fazer
determinadas coisas, como trabalhar e não cuidar das tarefas domésticas ou sair
com os amigos para uma noitada. Quando são desafiados, partem para agressão”,
diz Barbosa.
O programa utiliza de psicodrama, palestras e
atividades paralelas. Além disso, noções de direitos humanos e da Lei Maria da
Penha também são abordadas. A ideia é acabar com o sentimento de impunidade dos
agressores. Além disso, questões de saúde sexual, como a importância do uso da
camisinha, são lembradas.
O resultado tem sido positivo: segundo
Barbosa, de cada cem agressores que passam pelo Coletivo, apenas dois
reincidem.