domingo, 4 de setembro de 2011

Bandeiras e formas de se mobilizar mudaram muito ao longo dos anos

Em 1992 os caras pintadas tomaram conta do país. E o Espírito Santo teve um papel decisivo na luta pelo impeachment do ex-presidente da república Fernando Collor de Melo. O publicitário Juliano Nogueira participava do movimento estudantil do período e conta como um grupo de estudantes chegou até o Congresso Nacional.

http://gazetaonline.globo.com/index.php?id=/capa/index.php
“Nós tínhamos nessa época, na escola secundária, um movimento interessante. Fizemos muito mais que só pintar as caras e ir para as ruas. Fomos até a Assembleia Legislativa e conseguimos com os deputados uma verba que foi usada para alugar um ônibus", conta Juliano.

Com o primeiro objetivo alcançado, os estudantes chegaram em Brasília e foram além: protocolaram um documento na Câmara dos Deputados, que era na verdade um Projeto de Lei que dava diretrizes ao futuro dos estudantes após a saída do Collor. "Quem nos recebeu foi a Rita Camata (PSDB)", lembra.


A viagem ficou marcada para sempre na vida do publicitário. Que destaca, entre os feitos da época, a menção que recebeu do ex-presidente  e senador Itamar Franco (PMDB). Foi legal, pois fomos para as ruas, protestamos e tudo. "Ele reconheceu o trabalho dos capixabas no processo de saída do Collor. Foi uma época muito politizada, onde existia ação dos alunos e dos grêmios, tudo de forma pacífica e organizada", recorda.

Sobre as lutas de hoje, Juliano pede apenas mais organização. "Vemos o pessoal lutando por direitos e achamos legal, apoiamos, mas tudo deve ser feito com um pouco mais de organização e cuidado para que a sociedade receba bem essa mensagem", explica.
Eles já foram obrigados a viver na clandestinidade, sofreram com tortura, perseguição e cassação, lutaram pela liberdade política e artística, pintaram o rosto para pedir a saída de um presidente. Os participantes do movimento estudantil, hora organizado, hora não, tiveram vital importância em um tempo em que não se tinha muita escolha. Mas e hoje, com amplos direitos políticos e maior representação pública, quais são as causas dos novos "caras pintadas"?
Temas nacionais e lutas por grandes objetivos já não fazem parte da pauta do movimento estudantil. Isso ocorre, de acordo com especialistas e com os próprios estudantes, por causa da atual conjuntura social e política do país. As formas de manifestação também já não são as mesmas e a mobilização, antes feita com muito sofrimento, de boca em boca, com materiais manuscritos ou mimeografados, viaja milhares de quilômetros por bites e megabites.

Para o especialista em Políticas Públicas Roberto Garcia Simões, a melhor forma de entender a representação política dos estudantes do século XXI é perceber que o contexto mudou muito. "O velho movimento estudantil morreu e estamos em busca de novas formas de manifestação e organização que contribuem com as ruas", defende.

Segundo ele, não se pode tentar interpretar esse movimento com os olhares da luta estudantil do passado. "A atuação hoje é de momento e em relação a objetivos concretos. Até porque a maioria dos estudantes tem horror em serem comandados. Tudo isso muda o sentido da militância", completa.

Esse pensamento é semelhante ao da doutora em Ciência Política Marta Zorzal. Para ela, o movimento estudantil hoje tem muito mais a ver com a interação, o que cria outras formas de contestação. "Até pelo surgimento da indústria cultural, o contestatório aparece muito na música como o rap, o funk e outros ritmos. Isso comprova que o movimento jovem não sumiu, apenas busca outro jeito de se manifestar", explica.


Fonte: Retirado do site http://gazetaonline.globo.com/index.php?id=/capa/index.php em 01 de setembro de 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário