quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Experiência do dia-a-dia

CASO 1

Os papéis sexuais estabelecidos pela sociedade são perpetuados durante gerações. Pegando um gancho nessa perpetuação posso citar um fato ocorrido há algum tempo em meu local de trabalho. Este fato ocorreu num espaço conhecido como brinquedoteca, nela existem vários brinquedos, destinados a faixas etárias de 0 a 17 anos.

Nessa ocasião trabalhava com uma educadora social, com formação em pedagogia, que ao receber uma turminha de crianças com faixa etária de 2 a 5 anos, separou os brinquedos de acordo com o sexo e não tendo em vista a observação da adequação da faixa etária. Quando indagada qual seria o critério de seleção dos brinquedos, a mesma informou que “é desde pequeno que se torce o pepino”, ou seja, em sua visão as crianças deveriam ser ‘condicionalizadas’ a brincar com objetos que os tornasse homens ou mulheres. Com esta afirmativa me direcionei a coordenação e pedi que a partir daquele momento fossem disponibilizados, para todos os profissionais, capacitações com o intuito e focalidade na identidade de cada um de nossos usuários, onde pudéssemos respeitar e acolher cada um em sua liberdade de expressão.

Passados dois anos percebo que as capacitações existem, no entanto o mais importante é a alteridade individual para compreender o outro como portador de direito, independente de sua orientação sexual.
A importância da problematização apresentada pelos textos consiste numa atuação profissional direcionada a práticas de plenos direitos para todos os cidadãos, sem distinção de qualquer ‘rótulo’ socialmente construído. É de suma importância a discussão do tema como forma de garantir direitos à todos, em consonância com a temática.

CASO 2

A pouco mais de 15 dias, recebemos uma solicitação judicial para realização de um estudo social de uma adolescente, que segundo as queixas da genitora, apresentava comportamento diferenciado para sua faixa etária ( consumo de álcool e outras drogas) e estava em más companhias.
No momento da visita a senhora estava muito apreensiva e sempre que perguntávamos qual seria a origem do ‘mau comportamento’ da filha, a mesma se tornava irritada e sempre dava um jeito de colocar a culpa na escola e nas amizades mantidas pela adolescente. Era evidente que existia ‘algo’ muito grave e que a mãe estava envergonhada de relatar a duas pessoas estranhas.

Como nessa visita não tínhamos base para confeccionar o estudo social, nos dirigimos à escola onde a adolescente estuda para tentar uma conversar com a equipe e com a menina.

Fomos recebidas pela orientadora pedagógica que nos relatou que a estudante não tinha nenhum problema com notas ou disciplina. Foi quando pedimos para conversar com a adolescente, que logo de inicio se declarou homossexual e que sabia que sua mãe havia procurado o Conselho Tutelar para que “alguém fizesse com que ela deixasse de gostar de mulher”. (sic). E que já havia levado ao juiz, padre, pastor, assistente social e psicólogo. E ainda que não tinha nenhum intenção de mudar sua orientação sexual para agradar aos pais, aos familiares e a sociedade.

Confesso que a adolescente estava tão segura em sua fala que fiquei atordoada e até mesmo sem palavras para argumentar com a mesma.
Daí vem uma pergunta: como ‘desconstruir’ a legitimidade de uma união homoafetiva como uma relação pecaminosa, errada? Como não tinha me aproximado da teoria apresentada neste módulo, pude apenas colocar as situações que poderiam ocorrer com relação às amizades com pessoas mais velhas, ao consumo de drogas. Porém ao ler o terceiro texto, pude ver que a naturalização da relação sexual entre homens e mulheres, como a única possível entre os seres humanos, vem sendo construída a milhares de anos, agora ‘sofre’ o abalo do reconhecimento de expressões de afeto e sexualidade entre sexos iguais. Acredito que essa nova visão levará muitos anos para se tornar um pensamento livre de preconceitos e construções sociais.

Contudo, hoje me sinto um pouco mais preparada para enfrentar situações que necessitem o uso dos recursos apresentados pelo curso como um todo.

CASO 3

Hoje vemos como as diferenças mantidas por tantos anos são legitimadas, temos profissões antes delegadas aos homens e que ainda hoje nos causam estranheza quando vemos uma mulher desempenhar tais atividades. A comunidade em que moro é composta em sua maioria por pessoas de classe baixa, e uma das mulheres mais ativas nos movimentos que aqui existem sempre foi pra mim um exemplo, pois não tem quase nenhum estudo, mas está envolvida na luta pela melhoria da qualidade de vida de todos os moradores.

No entanto esses dias fui surpreendida por uma fala dela que me deixou no chão. Ela tem uma filha adolescente que foi selecionada para participar de um curso gratuito no SENAC de automação industrial, porém ela estava muito angustiada, pois ‘achava que essa profissão era de homem’, e diante do desejo da filha em participar do curso veio procurar minha mãe para ter uma idéia de como dissuadir a menina para que não fizesse o curso. Quando deu por mim já tinha falado uma meia hora de igualdade de gênero, pelas lutas das mulheres de todos os tempos para mudar essa mentalidade machista, que isso era um tipo de violência. Detalhe que ela nem veio conversar comigo. Sei que exercitei todas as unidades do curso até agora e no fim ela mesma começou questionar todas as atitudes que tomamos e que nos impedem de ter nosso reconhecimento perante a sociedade. Talvez não tenha sido grande coisa, essa minha fala, mas sei que levou a alguém refletir e repensar na perpetuação de nossas ações em todos os tipos de relação seja ela de gênero, racial ou religiosa.

CASO 4

No caso específico da política de habitação, as mulheres têm a preferência na titulação do imóvel, pois se acredita que a ‘mãe jamais deixará seu filho desabrigado’. Na minha concepção, este é mais um movimento discriminatório da sociedade, mais um peso garantido às mulheres, pois mais uma vez, a mulher se encontra na posição de cuidadora e zeladora pelo bem da família.

Ora, esta é mais uma das funções da mulher e quantas outras desenvolveu sem o mínimo de reconhecimento? Conquistamos o mercado de trabalho, os bancos das faculdades, empregos antes só concebidos para a ala masculina, somos provedoras do lar e ainda nos enxergam apenas como cuidadora.

Outra situação que gostaria de colocar é com relação às mulheres que atendo diariamente em meu local de trabalho. Quando começamos a conversar, no momento do acolhimento ao serviço, elas se declaram donas de casa, ou ainda que ‘não fazem nada, apenas cuidam da casa e dos filhos’, porém no desenrolar da conversa e conforme vamos nos conhecendo descubro muitas outras coisas, como por exemplo, a coragem de desempenhar qualquer atividade de trabalhos para que não falte nada em sua casa, pois como dizem não ter profissão, qualquer coisa serve como trabalho. Percebo como as mulheres que convivo e geralmente de classe baixa, quem sabe abaixo da linha da pobreza estão preparadas para sua emancipação, o que faltam são Políticas Públicas que oferecem subsídios para esse desenvolvimento.

Textos produzidos pela aluna GPPGR Walesca Fisch, polo UAB Aracruz – ES.

Nenhum comentário:

Postar um comentário