quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Violência doméstica contra mulheres em Aracruz sob a ótica de um Policial Militar

Ao longo dos seis últimos anos, estive atuando no policiamento do município de Aracruz, e dentre as ocorrências atendidas, a de maior demanda são as ocorrências assistenciais, como socorro a enfermo, socorro a parturiente, etc. Mas dentre as ocorrências que envolviam a prática de crimes, a de maior volume, com certeza é a de agressão contra mulher, constituindo o que é previsto em lei como violência doméstica contra mulher.

http://www.portofeliz.am.br/
As mulheres pobres e negras são a maioria das vítimas, mas já atendi ocorrências envolvendo mulheres brancas e ricas também. No jargão policial, é a famosa briga de “marido e mulher”, que para os PM’s possui características comuns. Tais ocorrências se iniciam quando a mulher vítima da violência, ou um familiar ou vizinho ligam para o 190 solicitando o socorro da PM, devido à ocorrência de violência contra mulher, por parte do marido ou companheiro.



Ao chegar ao local, muitas vezes o policial militar é recebido pela própria vítima, que tenta esconder as marcas da agressão, cobrindo hematomas, ferimentos, arrumando o cabelo, e passa para o policial que não foi nada, foi apenas um “bate-boca”, mas na verdade foi uma “batida na boca”. Algumas mulheres denunciam as agressões aos policiais e se manifestam a favor de representar contra o agressor, ambos então são conduzidos até a delegacia de plantão, na maioria das vezes, ao chegar na delegacia, a vítima muda de ideia e diz não querer mais representar contra seu cônjuge ou companheiro, e elenca uma série de motivos: “ele é trabalhador, cuida bem das crianças, só me agride quando esta bêbado, se ele ficar preso quem vai sustentar a casa?”.

Bom, é triste, mas essa é a dura realidade das ocorrências de violência doméstica contra mulher. É necessário que algumas ações sejam feitas para que tais problemas sejam combatidos com seriedade. Não podemos culpar as vítimas, pois esse tipo de violência, muitas vezes é cultural, e ela assistiu seu pai agredir sua mãe que se mantinha sempre submissa. A tais mulheres, deve ser dado acesso mais fácil ao mercado de trabalho, deve ser oferecido em Aracruz e nas outras cidades, casas de acolhimento para as vítimas e seus filhos.

A polícia militar, a polícia civil, a defensoria pública, o ministério público e o judiciário, devem tratar esse problema com mais seriedade e energia. Por várias vezes ouvi comentários perversos e gozações a respeito de mulheres vítimas de violência, que por vários motivos não conseguiam se libertar da companhia do agressor. Como policiais militares, podemos contribuir muito no combate a violência contra mulher, mas não podemos fazer tudo, os outros entes públicos e atores sociais devem fazer sua parte. Gostaria de ressaltar que seria de extrema importância a atuação de grupos e ONG’s que militam em favor dos direitos femininos e contra a violência doméstica contra mulher, em cidades do interior como Aracruz, pois a experiência destes entes por certo ajudariam na transformação deste triste cenário.  

Texto Produzido pelo Capitão da Policia Militar e aluno GPPGR Marcio Cunha Cabral, polo Aracruz – ES.

Nenhum comentário:

Postar um comentário