segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Para Refletir

O público principal ao qual atendo diariamente, é feminino, em 85% dos relatos e das entrevistas que faço, pôde ser verificado que estas mulheres são as responsáveis por seus lares, são mulheres que os companheiros foram trabalhar em outras localidades e não retornaram mulheres que sofreram agressões físicas e verbais de seus ex-companheiros, assim como também é nítido aquelas que não denunciam os maus tratos por não terem como se suster e nem mesmo seus filhos e preferem se submeter a estas condições de vida.

Muitas destas não possuem nem mesmo o ensino fundamental completo, ou não possuem grau de instrução algum, as que estão inseridas no mercado de trabalho não recebem o suficiente para manter suas famílias, muitas trabalham sem nenhuma garantia dos direitos, não possuem carteira assinada, menos ainda algum tipo de especialização profissional.

São mulheres que já não possuem alto estima, não acreditam na possibilidade de melhorias em suas vidas, muitas ainda possuem esperanças, mas muitas preferem não alimentar sonhos de que algo vai mudar. Talvez para um texto que será publicado em um blog de alunos de uma pós-graduação, muitos procurarão por uma pesquisa cientifica com números, dados concretos, mas quando tratamos de pessoas e de relatos reais, não há nada mais enriquecedor do que pensar em uma comunidade constituída por gente e não por números, mesmo sendo evidente que os números são necessários.

Vou relatar aqui algo que vivenciei há alguns dias: “em uma noite sábado decidi sair com amigos, chegamos ao estabelecimento fizemos o pedido do que queríamos e ficamos aguardando, enquanto esperávamos sentados em uma mesa na área externa do ambiente, presenciamos um caso de agressão física”. O marido nitidamente embriagado pilotava uma motocicleta, pediu para a esposa descer e ali mesmo iniciaram uma discussão que acarretou em socos e ponta pés a ponto de jogá-la no chão e bater a cabeça no muro de uma loja próxima.

Fiquei muito assustada porque muitas pessoas estavam por perto e ninguém fez nada até que um policial que estava em seu dia de folga viu a cena e tentou apanhar o agressor, porém este fugiu. A vítima chorava muito e o policial pediu reforço, porém quando o policial pediu para acompanhá-lo até a delegacia a mesma se negou, alegou que iria fazer a denuncia e que o agressor em seguida estaria solto e a mataria”.

Depois de presenciar esta cena e depois dos relatos que ouço enquanto profissional, cheguei à conclusão de que mesmo em uma sociedade de luta por igualdade há ainda muita distinção entre homens e mulheres, estas circunstâncias me fazem pensar se nossas vitimas estão sendo atendidas da forma que deveriam, se as políticas públicas direcionadas para as mulheres estão realmente vigorando, se estas atendem as demandas de nossa municipalidade. Fez-me pensar em como atender uma mulher vítima de agressão e mandá-la para casa, sabendo que o agressor irá machucá-la outra vez?

Fez-me pensar em como, mesmo quando queremos incluir, temos a capacidade de excluir, pois os programas para aprendizagem e especialização que são ofertados em nosso município gratuitamente são para pessoas que possuem o ensino médio completo, mas e estas pessoas que não tiveram estas oportunidades, que não tinham com quem deixar os filhos, que não puderam concluir este médio exigido? São discussões que tendem a prolongar. As políticas públicas para mulheres iniciaram sua inserção no Brasil a partir de 80, através de movimentos sociais e demais ações de luta para alcançar melhorias de vida, mas vemos que hoje ainda já no século XXI ainda encontramos dificuldades para enfrentar as demandas existentes, o que nos faz chegar à conclusão que temos muito a avançar ainda para alcançar o mínimo que temos direito.

Fonte: Texto produzido pela aluna GPPGR Jaiane Loureiro da Silva, polo UAB Aracruz – ES.

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